13 junho 2010

Caminho a teu lado

Existe um poema de Fernando Pessoa que se encaixa na perfeição no momento que escrevo e que me relembrou deste meu canto onde desabafo e partilho alguns momentos já vividos :

"Caminho a teu lado mudo
Sentes-me , vês-me alheado
Perguntas: Sim..., Não..., Não sei ...
Tenho saudades de tempos idos
quando tudo era mais simples
Até, porque está passado,
Do próprio mal que passei.
Sim, hoje é um dia feliz.
Será, não será, por certo
Num príncipio não sei que
Há um sentido que me diz
Que isto- o céu longe e nós perto
É só a sombra do que é"

Sinto algum receio do que se aproxima , ainda que saiba que talvez seja esta a minha grande oportunidade , ou talvez não; pois no passado já me prejudicaram muito e o simples facto de ser diferente ( sou igual a mim própria, sem máscaras- SEMPRE) e me mostrar sempre igual, fez com que muitas pessoas se sentissem ameaçadas pelo meu saber, pela minha simplicidade, por ser apenas aquilo que sou. É tão triste que sintamos isto numa sociedade que ensina as crianças a ter valores e regerem-se por tal, mas quando as mesmas crescem detectam que todo o ensinamento tido não se aplica em quase nada.

17 setembro 2009

Nova Oportunidade

Hoje desloquei-me a uma instituição de solidariedade que se localiza perto da minha área de residência . Entreguei com 1 familiar alguns géneros alimentares para ajudar aqueles que são os mais necessitados.
Todos estavam a ajudar ( era quase hora do jantar) e levavam os pratos, talheres, copos . Outros regressavam de mais um dia de aulas cansativo .
O bem comum é de facto um dos mais elevados valores que devemos de preservar ao longo da vida.
Todos merecem uma segunda oportunidade ...

15 agosto 2009

Quem sou do que resta ....

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura

Essa intimidade perfeita com o silêncio

Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo

– Perdoai!eles não têm culpa de ter nascido...


Resta essa imobilidade, essa economia de gestos

Essa inércia cada vez maior diante do Infinito

Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível

Essa irredutível recusa à poesia não vivida.


Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento

Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade

Do tempo, essa lenta decomposição poética

Em busca de uma só vida, uma só morte.


Resta esse coração queimando como um círio

Numa catedral em ruínas, essa tristeza

Diante do quotidiano; ou essa súbita alegria

Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...


Resta essa vontade de chorar diante da beleza

Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido

Essa imensa piedade de si mesmo e de sua força inútil.


Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado

De pequenos absurdos, essa capacidade de rir à toa,

esse ridículo desejo de ser útil

E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.


Resta essa faculdade incoercível de sonhar

De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade

De aceitá-la tal como é, e essa visão ampla dos acontecimentos

e essa impressionante persistência, e essa memória anterior

De mundos inexistentes, e esse heroísmo

Estático, e essa pequenina luz indecifrável

A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.


Resta esse desejo de sentir-se igual a todos

De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória

Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade

De não querer ser príncipe senão do seu reino.


Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto

Esse eterno levantar-se depois de cada queda

Essa busca de equilíbrio no fio da navalha

Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo

Infantil de ter pequenas coragens.


Resto eu, caminhando sozinha com esta mágoa indescritível

Sentindo-me perdida, quase à beira do precípicio

mas segura de que dei tudo de mim

sem esperar contrapartida


Mas fui a única a continuar a lutar interiormente

contra os medos da solidão, da marginalização

e sentindo a vossa falta (mais do que nunca na vida)

Quem sou eu afinal ?

P.S. Perdoai-me "Mestre Vinicius" por ter usado como introdução, parte do seu poema "A Haver"

28 junho 2009

Somewhere only we know...

Gostaria que nos tivéssemos cruzado antes. Tanta mudança que almejo se concretizaria e o percurso da nossa vida teria sido diferente... A felicidade tão perto e tão longe ....
Deixo aqui um pouco daquilo que sou e sinto (ainda) por ti.

"Eu deixarei que morra em mim, o desejo de amar os teus olhos que são doces

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente perdida

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

Eu deixarei ... tu irás e encostarás a tua face em outra face

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui a grande íntima da noite.

Porque eu encostei a minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.

Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir."


Vinicius de Moraes

Talvez numa outra encarnação nos possamos cruzar.... who knows?!